Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e Moisés, conversando com Jesus. Pedro então tomou a palavra e disse a Jesus: “Rabi, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Na realidade, não sabia o que devia falar, pois eles estavam tomados de medo. Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai-o!”. E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém: só Jesus estava com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. Eles ficaram pensando nesta palavra e discutiam entre si o que significaria esse “ressuscitar dos mortos”.
LEITURA ORANTE
ORAÇÃO INICIAL
Neste segundo domingo da quaresma, mais uma vez nos encontramos com a riqueza da Palavra de Deus. Celebramos na liturgia a memória da Transfiguração do Senhor. O autor Raniero Cantalamessa, em seu livro O Mistério da Transfiguração, nos diz: "Jesus se transfigura ainda hoje na Escritura, e não basta a inteligência humana para tornar suas vestes cândidas, isto é, suas palavras claras e compreensíveis... Asseguramos que nenhuma leitura científica pode, por si só, iluminar o mistério encerrado na Escritura. Só o Espírito Santo pode fazê-lo".
Peçamos que o Espírito Santo nos ilumine para compreendermos o mistério da vida de Cristo revelado na Transfiguração: Senhor Jesus, dá-me um coração simples para compreender a riqueza de ensinamentos escondida em tua Palavra. Envia teu Espírito Santo para que eu não tenha medo de escutá-la e vivê-la conforme a tua vontade. Que a Palavra transforme o meu coração através da fé e confiança que eu deposito em ti. Amém.
1- LEITURA (VERDADE)
É o momento de compreendermos o texto. O que ele diz? Leia calma e silenciosamente o texto do Evangelho. Depois, leia novamente em voz alta e pausadamente, e procure repetir as palavras que chamam sua atenção. Quais personagens aparecem no texto? Onde eles se encontram? O que acontece no alto da montanha? Como os discípulos reagem? O que significam as palavras: "Este é o meu Filho amado. Escutai-o!"? Por que os discípulos não compreenderam o que Jesus queria dizer com "ressuscitar dos mortos"?
Alguns elementos presentes no texto: diferentemente de outros relatos em que Jesus realiza curas e milagres, aqui algo se realiza em Jesus. A roupa branca e brilhante revela a manifestação da luz divina que Jesus irradia de seu interior. A Transfiguração é um efeito da oração de Jesus. A montanha é lugar onde Deus se comunica e se manifesta. Moisés e Elias aparecem conversando com Jesus e representam a Lei e os Profetas do Antigo Testamento. A voz do Pai revela quem é Jesus e qual a sua missão: "o Filho amado, escutai-o".
2- MEDITAÇÃO (CAMINHO)
Agora, vamos trazer a reflexão da Palavra para a nossa vida. O que o texto me fala? Que aspectos do mistério de Deus esta passagem proporciona conhecer? Como Cristo viveu isso? Que luz nos dá Jesus, com sua pessoa e sua mensagem? De que maneira esta passagem nos compromete? O que ela está me pedindo?
Na montanha, os discípulos foram testemunhas, contempladores da grandeza de Jesus. Contemplar o rosto de Jesus ilumina a nossa caminhada, mesmo nas noites mais escuras. A glória manifestada na transfiguração é a transparência do amor e da liberdade com que Jesus sempre se relacionou com seus discípulos e com o povo.
3- ORAÇÃO (VIDA)
Ouvimos Deus que nos falou em sua Palavra. Agora, somos impelidos em direção àquele a quem temos ouvido. O que o texto bíblico me inspira a dizer a Deus? Conclua com a oração composta por São João Paulo II: Senhor Jesus, concede-me crer firmemente no amor que tu me revelaste e que doaste no teu Evangelho. Faze que eu ouça cada dia a tua voz que me chama a seguir-te para sentir sempre em mim os benefícios da tua redenção. Amém.
4- CONTEMPLAÇÃO (VIDA E MISSÃO)
Qual é o novo olhar que nasceu em mim, a partir da Palavra? Apelos que recebi e compromissos que desejo concretizar em minha vida.
BÊNÇÃO
- Que Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Que Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Que volte para nós o seu olhar. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.
Ir. Angela Klidzio, fsp
COMENTÁRIOS
O Pai age em Jesus, revelando a sua filiação divina
O livro do Gênesis é o livro das origens: da criação, do mal e da fé no Deus único e verdadeiro. Na primeira leitura, temos o relato do sacrifício de Abraão. Deus não pretende tirar a vida de Isaac, como se pode notar no próprio relato – filho que Abraão teve com Sara já na sua velhice –, mas testar e aprofundar a fé do Patriarca. Para o Antigo Testamento, o sacrifício não é algo negativo, mas positivo, porque une o homem a Deus. Pela sua confiança em Deus, Abraão estava disposto e preparou tudo para oferecer o seu filho. Seu sacrifício e sua fé constituíram-se numa fonte de bênçãos. A promessa de Deus de uma descendência numerosa para Abraão é consequência de sua obediência a Deus. Na leitura cristã do Antigo Testamento, o sacrifício de Isaac é figura do sacrifício de Jesus. O relato da transfiguração do Senhor é a sequência do primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição do Senhor (Mc 8,31-33) e da apresentação das exigências para seguir Jesus (Mc 8,34-38). Os discípulos, entre outros, têm dificuldade de aceitar a novidade do messianismo vivido por Jesus, um Messias que passa pelo sofrimento e pela morte. Desde então, a glória de Jesus está ligada à sua paixão e morte. O caminho do discípulo, no entanto, é o caminho do Mestre. A transfiguração é uma prolepse do mistério pascal de Jesus Cristo. O passivo divino “foi transfigurado” significa que o Pai é quem age em Jesus, revelando a sua filiação divina. A observação de que as vestes ficaram brancas como nenhuma lavadeira conseguiria fazê-lo é o modo bíblico de dizer que se trata de uma revelação de Deus. O desconcerto de Pedro diante do mistério deve ser vencido pela escuta do Filho bem amado de Deus. É preciso escutar Jesus, pois sua mensagem descortina o mistério de Deus; é preciso escutar o Senhor, pois só ele tem “palavras de vida eterna”. A transfiguração de Jesus nos ajuda a compreender que aquele que vai sofrer a paixão e ser glorificado é o Filho de Deus que se encarnou para a nossa salvação. O que sustenta nossa vocação cristã, o que sustenta nossa fé é a graça da ressurreição do Senhor. O sofrimento e a morte não são a última palavra. O Senhor, ressuscitado dos mortos, venceu o mal e a morte; glorioso, nos faz participantes de sua vitória. Este é o conteúdo da esperança cristã. É preciso manter os ouvidos abertos e o olhar fixo no Senhor, que passou pelo sofrimento e pela morte, e ressuscitou. A experiência dos efeitos de sua ressurreição conduz os discípulos, todos nós, a vivermos a adesão à pessoa de Jesus Cristo no cotidiano de nossa vida.
Pe. Carlos Alberto Contieri
Fonte Paulinas