quinta-feira, 1 de março de 2012

DEIXA A LUZ ILUMINAR TUA ALMA





TRIBUTO A GEÍSA

“Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice;
Não seja, porém, a minha vontade
A fazer-se, mas a tua.” (Lu 22,42)


Prenúncios do grande momento do amor de Deus,
Que, naquele instante, entregava seu filho
Para salvar o seu povo.

“Leva-me contigo, deixa minha mãe em paz”.
Momento de profundo amor ao próximo
De uma mulher predestinada,
Que iluminada por Deus
Entregou-se ao bandido,
Como mártir de um povo,
Por alguém que nem conhecia
E a chamou de mãe.

(“Vós sois a Luz do mundo” Mt 5,14)
Foram quatro horas de sofrimento extremo,
Que fez de Geísa a luz
Para todos os que insistem
Em não enxergar a violência,
Para todos os que insistem
Em não ouvir o grito, dos corações aflitos,
De um povo sofrido.
Tão órfão, como órfã era ela própria,
Para todos os corações que continuam a bater.

Uma vida se deu para refletirmos:
Quem matou esta heroína anônima,
Que talvez nem soubesse
Do que era capaz a sua bondade
E nem percebeu a grandeza do seu gesto.
Foi morta por um homem
Que escapou da chacina da Candelária?
Foi morta pelo clamor dos excluídos?
Foi morta pelos famintos?
Foi morta pelos desamparados?
Foi morta pelos loucos e drogados da sociedade?
Foi morta pela emoção de homens despreparados?
Foi morta pela hipocrisia da nação,
Que dá as costas aos graves problemas da violência?
Foi morta por todos nós, que somos apáticos:
Porque não gritamos,
Porque não exigimos,
Porque somos o resto da escória do mundo,
Para o primeiro mundo.
Por que entregamos nossos valores mais profundos?
Por que saímos da frente do espelho
Com vergonha do que vemos?
Por que somos alheios a tudo o que nos rodeia?

Esta mulher, Luz de uma nação, foi morta;
Morta como hóstia viva
E se transformou em útero da verdade reveladora
Para que todos compreendam
Que faltam gestos profundos:
De amor,
De honradez,
De vergonha,
De respeito,
De coragem de dizer:
Esta é minha mãe! Não façam mal a ela.
Esta é minha pátria! Não faça a ela nenhum mal
Porque estarei na frente das armas
E serei escudo dos oprimidos;
Porque estarei sempre defendendo
O que há de mais puro
Nos meus sentimentos de patriota;
Porque estarei agora e sempre disposto
A qualquer sacrifício
Para que sejamos uma nação honrada e decente,
Que possa orgulhar-se de seus filhos,
Como neste momento a família de Geísa,
Mesmo com toda a dor da sua falta,
Deverá estar a orgulhar-se dela.



Alvaro Oliveira
01/03/2012

* Tributo a Geísa Firmo Gonçalves, vítima do assalto ao ônibus da linha 174 Gavea-Centro, no Jardim Botânico - Rio de janeiro em 12/6/2000.

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