quinta-feira, 8 de março de 2012

O SILÊNCIO DE DEUS




A dinâmica de palavra e silêncio, que marca a oração de Jesus em toda a sua existência terrena, sobretudo na cruz, tem a ver também com a nossa vida de oração em duas direções. A primeira é aquela em relação ao acolhimento da Palavra de Deus. É necessário o silêncio interior e exterior para que a palavra possa ser ouvida.E este é um ponto particularmente difícil para nós no nosso tempo. De fato, a nossa época não favorece o recolhimento e ainda às vezes se tem a impressão que exista um medo de destacar-se, mesmo por um instante, do rio de palavras e de imagens que marcam e preenchem os nossos dias. Por isto na já mencionada Verbum Dominirecordei a necessidade de educar-nos ao valor do silêncio: "Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja quer dizer também redescobrir o sentido do recolhimento e da quietude interior. A grande tradição patrística nos ensina que os mistérios de Cristo, são ligados ao silêncio e somente nele a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu com Maria, inseparavelmente Mulher da palavra e do silêncio" (n.21). Este princípio - que sem silêncio não se escuta, não se ouve, não se recebe uma palavra -  vale para a oração pessoal sobretudo, mas também para as nossas liturgias: para facilitar uma escuta autêntica, elas devem ser ricas de momentos de silêncio e de acolhimento não verbal. Vale sempre a observação de Santo Agostinho: Verbo crescente, verba deficiunt - "Quando o Verbo de Deus cresce, as palavras do homem diminuem" (Sermo 288,5: PL 38,1307; Sermo 120,2: PL 28,677).
Os Evangelhos apresentam frequentemente, sobretudo nas escolhas decisivas, Jesus que se retira sozinho em um lugar longe das multidões e dos próprios discípulos para rezar no silêncio e viver o seu relacionamento filial com Deus. O silêncio é capaz de escavar um espaço interior de nós mesmos, para fazer habitar Deus, para que a sua Palavra permaneça em nós, para o amor por Ele se enraize na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida. Portanto, a primeira direção: reaprender o silêncio, a abertura para a escuta, que nos abre para o alto, à Palavra de Deus.

Bento XVI

Fonte:http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=285495

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